Falar que o Brasil é um país de profundas desigualdades sociais não é nenhuma descoberta nova. Falar que a educação é a principal estratégia para a superação dessas desigualdades também não é nenhuma novidade. Falar que pela diversidade existente no país é preciso respeitar as especificidades da população brasileira é, como se diz na linguagem popular, “chover no molhado”. Entretanto, apesar de tais afirmações estarem presentes em todos os discursos governamentais nacionais e internacionais, o que ocorre na realidade é bem diferente. Há ainda uma falta de sintonia entre discurso e prática no que se refere à Educação do Campo, mesmo reconhecendo todos os avanços obtidos nos anos de luta por uma educação do campo pública e de qualidade.
O despejo da EFA Bontempo em Itaobim/MG é um triste exemplo de como ainda estamos longe de garantir o direito universal à educação. Iniciativa fruto da luta dos agricultores e agricultoras familiares do Vale do Jequitinhonha, a EFA Bontempo atende mais de 20 municípios do Baixo e do Médio Jequitinhonha. Não é uma simples escola. Lá jovens educandos, seus familiares e a comunidade como um todo lutam, há pelo menos cinco anos, para fazer valer o direito à educação. Se há um consenso no país, explicitado diversas vezes, nas mais variadas ocasiões, de que a Educação é a principal estratégia no enfrentamento à pobreza, à miséria e a desigualdade social brasileira, o que é que explica o fechamento de uma escola que nasce justamente com o objetivo de garantir a oferta da educação básica nas áreas rurais e superar as desvantagens educacionais sofridas pelos sujeitos do campo, por meio de medidas e estratégias diferenciadas e contextualizadas? Como explicar para a comunidade e para os 200 jovens que lá estudam que eles simplesmente não têm mais onde estudar? Sim, porque fechar uma escola do campo tem impactos diretos na vida das pessoas, dentre eles, a saída dos jovens do campo para as cidades em busca de oportunidades e a submissão a uma educação que não considera sua identidade de sujeito do campo e que faz com que muitos e muitas jovens não compreendam o campo como um espaço também de trabalho e vida digna. Sendo assim, a CONTAG se solidariza com a Associação Mineira de Escolas Família-Agrícola – AMEFA e com a Associação Escola Família Agrícola do Médio e do Baixo Jequitinhonha, com os professores e professoras, alunos e alunas que neste momento estão unidos e solicita às autoridades competentes envolvidas na questão para que tenham bom senso e tomem as providências necessárias para que o direito universal à educação seja respeitado de fato. |
Fonte: Diretoria da Contag |